Na fila antes de nascer, um papinho com Deus...

Um monte de gente estava no céu antes de nascer.

Havia várias filas... todas elas muito longas... as pessoas tinham o direito de escolher um número "x" de atributos.

Lá para as tantas esse grande grupo no qual e meu encontrava já tinha escolhido várias coisas e o guia responsável avisou:

- Pessoal, restam apenas 3 filas... só que apenas 1 fila é unissex e acho que é uma fila muito importante. Vamos ter paciência e consciência na escolha e respeito com o nosso próximo porque tem suficiente para todos... (O pobre guia iludido da vida era muito ingênuo! Fico me perguntando que filas ele mesmo escolheu ou se não teve direito! Se não aprendeu nada com sua experiência anterior.. mas enfim)

As filas eram as seguintes: Pinto Grande, Peitos Grandes e Inteligência.

Xúúaúaúaáuáuúaaaaa!!!

Avalanche de homens na fila do Pinto Grande.

Avalanche de mulheres E homens na fila do Peito Grande.

Uns gatos pingados na fila da Inteligência.

E eu lá na fila da inteligência... e aí chega Deus e chama a gente num canto. Aí ele fala:

- Eu sempre converso com as pessoas que escolhem essa fila para advertir que será uma vida mais difícil a de vocês do que a dos seus colegas. Vejam bem... vocês podem se disfarçar colocando um peito grande, aumentando o tamanho do pinto.. mas a inteligência nunca deixará que ignorem o mundo como ele é. A ignorância é uma benção e essa é a primeira coisa que vocês vão aprender, desde agora. 

Aí Deus olhou... olhou... e refletiu um pouco com o cenho franzido e disse:

- Considerando que este grupo é um grupo pequeno, vou dar a vocês mais uma dificuldade: vou fazer de vocês belos. Assim, sua inteligência sempre será questionada. Vocês saberão e compreenderão, serão capazes e preparados, mas por causA da beleza os invejosos sempre duvidarão de sua inteligência e vocês terão que amargar serem os donos de duas virtudes tão invejadas que lhes trarão tanta solidão.

Uma das pessoas, de olhos esbugalhados, perguntou:

- Deus, posso mudar de fila? Posso ir para a fila do Pinto Grande?

E Deus gargalhando respondeu:

- A inteligência não é como a beleza que você consegue camuflar. Vê? Quer ir para a fila dos Pintos pensando que assim pode escapar das angústias que lhe aguardam. Mas deixa eu falar, meu filho.

- Um dia, quando você estiver vivendo a sua vida... mesmo com a consciência de que a ignorância é uma benção... Jamais admitirá abdicar de seu conhecimento, de sua percepção, para viver no mundo dos ignorantes. Lhe será mil vezes preferível a dor da compreensão do que o alívio da confusão. Você poderá olhar ao seu redor e vê-lo pelo que ele é. Você olhará no espelho e se enxergará. E, então você preferirá viver com o fracasso e com a mediocridade que talvez esteja enxergando do que com a ignorância do medíocre que se acha fabuloso. Isso porque a beleza e a inteligência têm um preço caro: o orgulho e a vaidade. Não são exclusividades de vocês, não. De modo algum. Mas a consciência a respeito desse orgulho, dessa vaidade, de uma grande impaciência... isso irá perseguí-los. Isso irá fazer com que se sintam sempre miseráveis.

E uma moça perguntou:

- E porque, Senhor, nos antecipa tudo isso, de modo que nosso sofrimento já começa de agora, pela nossa capacidade de projetar nosso futuro? E porque nos escolheu?

E Ele respondeu:

- Eu vos digo, em verdade, que vocês se escolheram, quando entraram nessa fila. E que as informações que eu vos dou não são para o seu sofrimento, embora eu saiba que será essa a consequencia imediata. Estou querendo lhes dar mais tempo. Porque o tempo de uma vida é muito pouco tempo. E digo que iria no lugar de vocês, se eu pudesse. Mas não posso. Se há um consolo é que um dia retornarão e nesse dia eu não perguntarei: "Que fizeram da inteligência que escolheram ter?", como gostam de me pintar por aí. Não porei suas boas e más ações em uma balança e não os banirei a lugar algum. Nesse dia irei chorar de tristeza e alegria, pelo tanto que tiverem crescido ou deixado de crescer. Porque o futuro do homem é do homem. O que estão levando daqui hoje é um enorme fardo, mas também uma possibilidade maior do que muitos de tornarem-se pessoas melhores. Peguem essa inteligência e usem. Quanto a todo o resto, suportem da melhor forma possível.

E assim partimos.

(importado do meu outro blog "Quem Pensa Demais", escrito em 06/02/2013)

Dói hoje...

Aí você vê que ninguém ao seu redor tem noção.. Ninguém PERCEBE o tanto que você está rachada, in the edge. Ninguém vê seu esforço hercúleo para não surtar. E você não surta... Porque não é daqueles felizardos que "simplesmente surtam". Você keep it together. Praticamente. Porque não pode se dar ao luxo de derrubar a peteca - essa é a verdade - mas é que você tem essa consciência do limite da sua loucura, da sua fraqueza. Não do limite que elas têm. Do limite de interferência que você pode permitir que elas exerçam. E tudo só dói mais! E você demonstra isso. Sim! Só um cego não veria. É que de onde eu venho não é como aqui onde todo mundo é cego...

Aqui eles não vêem. Ignoram. Sorriem. Contam os próprios problemas. Estou sem saber ao certo se choro ou se grito... Mas faço tudo "que tem que ser feito". De onde eu venho as pessoas seguram a onda. Não há mais ninguém igual a mim aqui por perto. Embora eu saiba que há em algum lugar. Só que estamos todos sós, um de cada vez.

Minha força é recompensada com mais ignorância. Mais cegueira. Esse tipo de egoísmo que o mundo demonstra comigo ao me ignorar "por dentro" é uma maldição e uma benção. Eu não sou assim. Não poderia fazer como "todo mundo". Estou condenada e enxergar nos outros o que eles ignoram sistematicamente em mim. Em socorrer nos outros da dor que eles reiteradamente deixam que eu sofra sozinha no escuro.

Quero gritar. Largar tudo. Culpar alguém. Chorar curvada na cama (isso eu faço). Mas amanhã levantarei e fingirei. Com a dor e a dúvida doendo em todos os meus poros. Eu sou condenada à solidão. A gente simplesmente sabe que é diferente. Pronto. Ponto. Depois melhora. Depois piora. Só alguém de onde eu venho poderia entender.

De onde eu venho somos todos iguais em nossa diferença.

"Só com o coração pode-se ver corretamente, o essencial é invisível aos olhos" (Pequeno Príncipe)

De onde eu venho a gente não vê. Sente. Por isso eu sou só. Porque aqui ninguém sente. Pouca gente ao menos enxerga... A maioria só olha.

As vezes a dor de viver num mundo tão diferente de mim parece que vai me comer. Me engolir. Tenho vontade de me entregar. Mas no final... Parece que é uma tortura calculada ao ponto de me massacrar sem me destruir completamente.

Não sei, contudo, quanto de mim resta em mim. Quanto de mim morreu em mim.

(importado do meu outro blog "Quem Pensa Demais" e escrito em 05/02/2013)

Pensando em Tolstoi

Alguns loucos são o único vestígio de sanidade que vejo no mundo.

(importado de meu outro blog "Quem Pensa Demais" e escrito em 04/02/2013)