Vinícius de Moraes
Quem pagará o enterro e as flores
Se eu me morrer de amores?
Quem, dentre amigos, tão amigo
Para estar no caixão comigo?
Quem, em meio ao funeral
Dirá de mim: — Nunca fez mal...
Quem, bêbado, chorará em voz alta
De não me ter trazido nada?
Quem virá despetalar pétalas
No meu túmulo de poeta?
Quem jogará timidamente
Na terra um grão de semente?
Quem elevará o olhar covarde
Até a estrela da tarde?
Quem me dirá palavras mágicas
Capazes de empalidecer o mármore?
Quem, oculta em véus escuros
Se crucificará nos muros?
Quem, macerada de desgosto
Sorrirá: — Rei morto, rei posto...
Quantas, debruçadas sobre o báratro
Sentirão as dores do parto?
Qual a que, branca de receio
Tocará o botão do seio?
Quem, louca, se jogará de bruços
A soluçar tantos soluços
Que há de despertar receios?
Quantos, os maxilares contraídos
O sangue a pulsar nas cicatrizes
Dirão: — Foi um doido amigo...
Quem, criança, olhando a terra
Ao ver movimentar-se um verme
Observará um ar de critério?
Quem, em circunstância oficial
Há de propor meu pedestal?
Quais os que, vindos da montanha
Terão circunspecção tamanha
Que eu hei de rir branco de cal?
Qual a que, o rosto sulcado de vento
Lançara um punhado de sal
Na minha cova de cimento?
Quem cantará canções de amigo
No dia do meu funeral?
Qual a que não estará presente
Por motivo circunstancial?
Quem cravará no seio duro
Uma lâmina enferrujada?
Quem, em seu verbo inconsútil
Há de orar: — Deus o tenha em sua guarda.
Qual o amigo que a sós consigo
Pensará: — Não há de ser nada...
Quem será a estranha figura
A um tronco de árvore encostada
Com um olhar frio e um ar de dúvida?
Quem se abraçará comigo
Que terá de ser arrancada?
Quem vai pagar o enterro e as flores
Se eu me morrer de amores?
Rio, 1950
Ao amigo Eduardo Meyer, que está hoje dizendo "até logo" ao seu pai, Gessé, daquele modo muito especial que alguns têm a grande responsabilidade de dizer... que ele possa realmente interiorizar que "até logo" não é "adeus".. é "até logo" mesmo.. Que a espiritualidade amiga e benfazeja possa amparar seu paizinho em um lugar realmente bonito, cheio das coisas das quais ele gostava (mesmo que ele tenha esquecido por um tempo que coisas são essas)... É doloroso só de ver alguém que está vendo o padecimento de um ente amado... Dizem que é um ato de misericórdia divina quando os anjos levam para o céu alguém que, aqui na Terra, vivia na dor e no sofrimento. Eu sei que se uma pessoa amada e querida fosse "embora", e alguém viesse com esse papo de "foi melhor assim".. bom.. eu não ia ser tão altruísta.. tão evoluida de pensar que é "melhor assim"... porque a saudade ia ficar me apertando tanto, tantão por dentro! E eu ia ficar ensandencida. Talvez até com raiva do tal "consolador" que viesse tentar me apaziguar... mas no fundo, láááá no fundo... sabemos que há uma verdade nessa estória... Sabemos que quando realmente amamos alguém, de verdade, muito mesmo, amamos tanto, e de tal maneira, que se for para um de nós sofrer, é melhor que seja eu.. e não quem eu amo! E se é assim.. melhor eu sofrer de saudade - que acredito não será eterna, mas temporária - do que ver um grande amor... um pai, mãe, irmão, marido, amigo e até filho... sofrer sem fim e sem descanso. Assim, penso que Chico Xavier tinha razão (vi o filme esses dias) e as lágrimas de saudade e amor são um bálsamo para os que foram. Por isso, vamos nos ater a elas e tentar abafar o inconformismo de nossos corações, que só leva angústia ao nosso ente querido que está partindo. Que a família possa ficar em paz, com o conforto do amor manso e constante de Deus.
Ao amigo Eduardo Meyer, que está hoje dizendo "até logo" ao seu pai, Gessé, daquele modo muito especial que alguns têm a grande responsabilidade de dizer... que ele possa realmente interiorizar que "até logo" não é "adeus".. é "até logo" mesmo.. Que a espiritualidade amiga e benfazeja possa amparar seu paizinho em um lugar realmente bonito, cheio das coisas das quais ele gostava (mesmo que ele tenha esquecido por um tempo que coisas são essas)... É doloroso só de ver alguém que está vendo o padecimento de um ente amado... Dizem que é um ato de misericórdia divina quando os anjos levam para o céu alguém que, aqui na Terra, vivia na dor e no sofrimento. Eu sei que se uma pessoa amada e querida fosse "embora", e alguém viesse com esse papo de "foi melhor assim".. bom.. eu não ia ser tão altruísta.. tão evoluida de pensar que é "melhor assim"... porque a saudade ia ficar me apertando tanto, tantão por dentro! E eu ia ficar ensandencida. Talvez até com raiva do tal "consolador" que viesse tentar me apaziguar... mas no fundo, láááá no fundo... sabemos que há uma verdade nessa estória... Sabemos que quando realmente amamos alguém, de verdade, muito mesmo, amamos tanto, e de tal maneira, que se for para um de nós sofrer, é melhor que seja eu.. e não quem eu amo! E se é assim.. melhor eu sofrer de saudade - que acredito não será eterna, mas temporária - do que ver um grande amor... um pai, mãe, irmão, marido, amigo e até filho... sofrer sem fim e sem descanso. Assim, penso que Chico Xavier tinha razão (vi o filme esses dias) e as lágrimas de saudade e amor são um bálsamo para os que foram. Por isso, vamos nos ater a elas e tentar abafar o inconformismo de nossos corações, que só leva angústia ao nosso ente querido que está partindo. Que a família possa ficar em paz, com o conforto do amor manso e constante de Deus.
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