Hoje quero falar sobre uma técnica de sobrevivência : a anestesiologia mental.
Bem... na realidade, eu estou aqui com os neurônios a mil por hora - tico e teco, os famosos! - e está surgindo uma distinção dentro da minha cabeça. De fato, são duas as nossas técnicas sutis de sobrevivência: o imunizar-se e o anestesiar-se.
Nos imunizamos quando a existência de alguém, de algo, perde a capacidade, perde o condão de nos atingir, de nos fragilizar, nos abalar, nos descentralizar... O processo de imunização é difícil. Eu costumo dizer que é a melhor forma de terminar um relacionamento que faz mal, mas que "aviciou". Sabe aquela relação que você (e a torcida do Flamengo) sabe que é pééééssiiiiiima pra você, mas não consegue acabar? É um caso em que a pessoa precisa se imunizar. Pra nos imunizarmos a presença do que nos atinge normalmente é necessária...
Vocês sabem como funciona a vacina? A bactéria é colocada ali dentro em um estado fragilizado, para que, um vez injetada no nosso organismo, ele (copo humano) possa reagir a ela nos tornando imunes por meio da produção de anticorpos. Pois bem! Pra que possamos nos imunizar é fundamental a presença do agente agressor. É preciso que realmente possamos olhar pra ele e vê-lo como ele é. Pode ser uma pessoa, um emprego, uma situação, um lugar: aquilo está lhe fazendo mal. É encarando de frente o problema e resolvendo que "do jeito que está não dá mais" que nosso organismo reage... e nós nos tornamos imunes. Um dia, uma hora os benefícios do "sem" ultrapassam os do "com", e aquilo que era necessário se torna intolerável.
Não sei bem explicar... mas de repente aquele lugar, aquele emprego, aquela pessoa, perde o poder sobre você. É como se, literalmente, criássemos anticorpos e vem uma certeza de que podemos viver muito bem, obrigada, bem longe daquilo tudo... mas também ao lado... Tanto faz! É indiferente.
A necessidade de fugir de alguma coisa mostra ausência de superação. Quando nos imunizamos, nos tornamos indiferentes porque o que nos fazia mal perde o poder sobre nós. Olhamos, olhamos e pensamos, pensamos e não conseguimos entender como um dia fomos vulneráveis diante de determinado contexto.
Imunizar-se é difícil porque pressupõe entendermos e aceitarmos que passamos por um "mal bocado", causado por um agente externo - exógeno - que atuou sobre nossa vontade, embora com nosso consentimento, por mais doloroso e incômodo que seja aceitar e assumir isso.
Em outras palavras: primeiro você tem que reconhecer que aquilo ali não tá bom. Depois você tem que aprender a não querer mais aquilo. Huuum.. complicado? Tipo... sabe isso de "acabar namoro?" Na verdade... a gente só "oficializa" a coisa. Quando o namoro, noivado, sei lá o quê, não dá certo... ele acaba por si só. A gente é que não aceita. Pois bem. O que acontece é que as pessoas precisam descobrir que por melhor que uma coisa seja, ela as vezes termina. Quando essa coisa termina, ela vira OUTRA coisa. Essa outra coisa que não é mais boa. Só que você continua ali, preso, como se fosse a primeira coisa (a que era boa)! Não! Deixa... Se liberta! Quando você perceber que tudo mudou... Que aquilo ali não é bom. Você vai se tornar imune.
Em outras palavras: primeiro você tem que reconhecer que aquilo ali não tá bom. Depois você tem que aprender a não querer mais aquilo. Huuum.. complicado? Tipo... sabe isso de "acabar namoro?" Na verdade... a gente só "oficializa" a coisa. Quando o namoro, noivado, sei lá o quê, não dá certo... ele acaba por si só. A gente é que não aceita. Pois bem. O que acontece é que as pessoas precisam descobrir que por melhor que uma coisa seja, ela as vezes termina. Quando essa coisa termina, ela vira OUTRA coisa. Essa outra coisa que não é mais boa. Só que você continua ali, preso, como se fosse a primeira coisa (a que era boa)! Não! Deixa... Se liberta! Quando você perceber que tudo mudou... Que aquilo ali não é bom. Você vai se tornar imune.
O fato de precisarmos nos imunizar - e todo mundo precisa eventualmente - e de conseguirmos, significa que tivemos obstáculos alheios ao nosso self modificando o mundo ao nosso redor, por imposição de um player estranho, e os superamos.
Acho que dá pra associar nos imunizarmos com nos "envernizarmos" ou nos "impermeabilizarmos" contra algo que estava ali... arrancando um pedaço aqui outro acolá da nossa essência.
Agora o anestesiar-se... Aaaahhhh, meu chapa! Aíííí o "buraco" é mais embaixo!!!
Eu concordo que se você deixou alguém ou algo lhe atingir ao ponto de precisar se impermeabilizar, é porque abriu a guarda e talz... Beleza. Concordo ainda que sempre existe uma quota de responsabilidade do indivíduo sobre tudo o que ele permite que se lhe imponham. Beleza também...
Acontece que é muuuuuito mais delicado quando nossos próprios fantasmas nos assombram, seja com relação aos nossos sentimentos quanto a nós mesmos, seja com relação ao que sentimentos pelos outros! Não se trata mais de "permissibilidade" ou baixa guarda. É uma discussão sem fim e sem frutos. Lá vem aquele lero-lero de como nossa mente nos prega peças, lá vem Freud com aquele monte de consciente, inconsciente, eu, sub-me-num-se-o-quê-das-quantas e o que interessa mesmo é que todo mundo se sente, em algum momento, perdido, sozinho, assustado, irritado, inseguro, incompreendido, desorientado, frustrado, ou seja lá o que for! Não temos como evitarmos SENTIR um monte de coisa atropelada... Isso é fato! Podemos tentar é adotar uma postura pra ordenar a bagunça desse bando de sentimento.
Sentir é inerente à condição de ser humano. Se "penso, logo existo"... então sinto, logo sou.
Todos criamos expectativas e castelos de areias, todos pensamos (nem que seja escondidos de nós mesmos) num grande amor, todos almejamos sucesso profissional, ou sonhamos com uma grande viagem ou temos qualquer outra ambição. Todos depositamos esperanças em uma segunda ou terceira pessoa. Todos temos vontade de jogar tudo pra cima pelo menos uma vez na vida... Todos duvidamos nem que seja rapidamente de que realmente somos capazes ou podemos chegar mais longe. Todos resolvemos convictos de que a partir de hoje viveremos um dia de cada vez, para em seguida afundarmos em mil planos! Todos sorrimos secretamente quando vemos crianças na rua pensando como seriam as nossas (ou já fizemos isso antes de tê-las). Todos pensamos o que faríamos se ganhássemos na mega-sena! Todos nos indignamos com a violência contra os inocentes nos noticiários, as calamidades públicas e os escândalos políticos... e esperamos um futuro melhor.. mesmo que nem suspeitemos disso. Todos temos ternas lembranças da infância, nem que seja uma ou duas. Enfim! Somos, gostemos ou não, esse monte de sentimento comprimido e condensado na forma de gente... moldado com um ser humano.
E onde estou querendo chegar com isso? Bom... vou ser direta: sabe o que nós fazemos (na minha opinião, claro!) pra não morrermos sufocados com esse bando de sentimento e pra conseguirmos tocar nossas obrigações e responsabilidades do dia a dia? Nós nos anestesiamos. Simples assim.
Não inteiramente. Talvez uns até tentem! hahahahahaha Mas, como dizia Jack, por partes. Claro!
Olha só que zona! Fora todos esses sentimentos, sensações, emoções, ainda temos que lidar com aqueles outros provocados, causados pelas pessoas/lugares/situações com os quais convivemos... Se a gente for dar vazão a tudo fica doido mesmo! Tantãm!
Lembrem-se! Temos os sentimentos de origem interna, dos quais acabei de falar. Mas temos ainda aqueles outros dos quais falei antes, de origem externa. Tudo isso pra lidarmos ao mesmo tempo, enquanto levamos uma vida "normal", trabalhando, pagando conta, pegando trânsito, indo malhar... Sem dúvida, precisamos nos anestesiar.
Precisamos optar por parar de sofrer por um monte de "besteira".
Sei que "besteira" não é "besteeeeeeira". Mas se tivermos em mente que o problema vai ter o tamanho que lhe dermos, quanto mais nos deixarmos atingir e angustiar, pior ficaremos. O "anestesiamento" é um exercício de força de vontade. E a prática vem com o tempo. Daqui a pouco nos anestesiaremos sem nos darmos conta e teremos é que nos policiarmos para não sermos indiferentes demais, francos e grossos demais, diretos e práticos demaaaaais.
Falta de prática e de limites é perigoso... não existe um escola que prepare o profissional em anestesiologia para a vida! :)
Acho que os teimosos saem na vanguarda. É preciso ter obstinação e cabeça dura. Mas não é requisito. O que é preciso fazer? Colocar uma direção na sua cabeça. Só isso. Tipo: "Não vou mais ficar chateada quando fulano não me der bom dia porque isso não me faz bem", "Não vou mais ligar o dia inteiro pra Beltrana porque ela nunca me liga de volta e isso mexe com minha estima. Tenho que entender que esse é o jeito dela e dar-lhe mais espaço. Vou ocupar esse meu tempo." "Não vou mais comer chocolate todo dia porque me dá um mega remorso e eu estou me sentindo péssima com meu corpo e esse é um primeiro passo." "Eu vou dar certo na vida, sim! Tenho capacidade pra isso e vou fazer por onde. Deus veste as flores e alimenta os pássaros!"
Eu, particularmente, tenho feito uso da anestesia ao meu favor. Tem me ajudado a me focar, me dedicar ao que demanda a minha atenção imediata, sabem? Se estou com dilemas pessoais e inseguranças... dou uma mega dose de "xilocaína" neles e penso "Epa! Agora não, Dona Eduarda! Nã nã nin nã não! Tá maluca, é? Tem que ficar com a cabecinha boa, no lugar, pra poder dormir, acordar amanhã trabalhar direitinho... tem conta pra pagar, tem que ir na academia... Neeeem pensar de ficar aí sofrendo feito peru de natal que morre de véspera! Póoo parar! Nem a pau Juvenal! Você é ninja menina! E vai dar tudo certo... Abba é seu chapa, lembra?" E aí, gente... hahahahahaha Não sei explicar... tô tão craque já que fico até meio lerda na hora!
Meu cérebro... sei lá, o que é! Rapidinho aquela preocupação que eu não tenho como resolver e que tá só ali me martirizando parece que vai láááá pro fim da fila! Eu não esqueço que existe, mas é que está tããããão loooooooonge... sabem? Não me incomoda mais. Outros pensamentos surgem, tipo "huuum...eu poderia comer um miojo agora"... ou "nossa, mas essa cor de esmalte que eu pintei a unha semana passada está um arraso!"... Pronto! Sou capaz de conversar ou escrever sobre o que estava me afligindo sem me abalar... Muito racionalmente e calmamente... pura anestesia! Freud explica?
Claro, as vezes não é simples assim. As vezes uma boa noite de sono vai no meio dessa aplicação de xilocaína mental... mas entre trancos e barrancos, works pretty much!
É uma grande verdade que nada pode nos fazer mal sem nosso consentimento. Nem mesmo nós podemos fazer mal a nós mesmos se não nos permitirmos. How crazy is that? Então cada dia mais eu tenho me recusado a permitir que eu me faça mal (conversa de doido, né? hahahahahahaha Eu seeeeeei!) Mas isso já é muita coisa!
O poder da nossa mente, do nosso controle sobre nós mesmos é algo inefável! A real dimensão está bem longe de ser conhecida ou compreendida. Mas sabemos o que é certo e errado, justo e injusto, bom e ruim. Sabemos que existem outras formas de pensar em algo sem precisar manter um espinho cravado em nosso coração como forma de lembrete. Então, minha gente, vamos extirpar esses espinhos e aliviar nossas almas!
Anestesiai-vos! :)