domingo, 24 de outubro de 2010

Leave behind


Imagens falam muito.
Outro dia me perguntaram o que vinha primeiro: a imagem ou o texto. Eu respondi que o texto vinha primeiro... mas não sei se é porque não tinha parado até então para reparar. A resposta verdadeira é que depende.
As vezes, normalmente, o texto vem primeiro e depois, com base no que escrevi começo a caça pela imagem certa. De tanto "caçar" imagens, iniciei um pequeno acervo... e hoje tenho dificuldades em limitar uma imagem por texto. Quem acompanha o blog deve ter percebido.
Bom. Com este pequeno acervo e este novo hábito de caçar... nasceu também a construção inversa. As vezes olho uma imagem... uma foto... e ela me diz tanto, que sinto necessidade de compartilhar um pouco do que recebo. Se é verdade que uma imagem vale por mil palavras? You can bet on it. Sabe o que mais? Go figure! hahahahaha Olhe só: "GO FIGURE!" Ou que tal: "Have you got the BIG PICTURE? "Quer que eu desenhe?" Tantas formas que nós usamos pra dizer que muitas vezes a melhor forma de "dizer algo" não é "falando".
Mas olha só eu viajando!!! Tudo isso porque essa imagem que eu encontrei em uma das minha "caças" me deu uma vontade danada de escrever! São tantas coisas a que ela me remete! Primeiro ao desapego. To leave things behind. Por ser uma criança, sem roupas, mas com um sapato - que mostra que ele já usou roupas - e o sapato super gasto dizendo que ele teve que percorrer um  longo caminho de onde veio até chegar ao mar.. E o mar que simboliza pra mim recomeço, purificação, reencontro consigo mesmo.
Tantas mensagens que uma imagem me passa!
A inocência de uma criança em acreditar no recomeço, no desapego e em deixar pra trás tudo de material e de emocional que o conduziram por todo aquele longo caminho até o único lugar onde poderia encontrar a pureza necessária a cumprir seu intento... o mar. Para onde vão as águas dos rios. 
O homem não pode se banhar duas vezes no mesmo rio. Nas mesmas águas. Elas seguem para o mar onde tudo termina e onde tudo começa! 
Tantas coisas que temos dificuldade de deixar pra trás!
No sentido material da palavra! Nossa! É complicado.
Muito possuir desperta a "necessidade" de muito mais. Precisamos de tudo o que já temos e do que ainda precisamos adquirir. E como assim deixar tudo isso pra trás? O que já temos e o que achamos que necessitamos? Não é todo dia que se houve falar que surgiu um São Francisco de Assis, é? É muito mais fácil praticar o desapego na pobreza. Não se sente falta do que nunca se teve. Fato. É mais fácil se acostumar do "menos para o mais" do que do "mais para o menos". Fato. O tal do bom samaritano na Bíblia não é aquele cara que procurou Jesus e disse que já tinha seguido toda sua cartilha bonitinho, que honrava o pai e a mãe, tudo o mais e queria saber o que mais era preciso para ter a salvação, ou entrar no Reino dos Céus, algo assim! E aí Cristo disse que era facinho.. bastava que se desfizesse de todos os seus bens materiais e o seguisse... e não foi aí que o moço amarelou? Então! Dê dinheiro e poder, você conhecerá o homem. Tente tirar o dinheiro e o poder que lhe foi dado, você saberá do que esse homem é capaz! Ahhh se saberá! Desapego material... to leave behind... é difícil.
E o desapego emocional? Esse eu nem sei se me atrevo a escrever mesmo sobre ele... Acho que no máximo tenho condições de introduzir o assunto. Porque aí vai variar de pessoa para pessoa. E mais: não varia só que o sentimos... porque sentimos uma coisa e demonstramos outra completamente diferente... então é praticamente impossível avaliar se não for no caso a caso.
Claro que, como tudo nesse mundo, sempre existem os extremos. E como tudo que é exagero é ruim , também o desapego/apego exagerado se distorce e vira outra coisa.
Desapego demais é indiferença e isso dói. Em quem sente e em que é objeto do sentimento. Apego em excesso é possessividade e isso dói tanto quanto a indiferença, mas causa um estrago ainda maior, tanto em que sente, como em que é vítima. A questão aqui é apenas que aquele que sente possessividade, muitas vezes "finge" que não sente, embora a vítima sofra do mesmo jeito. Já no caso da indiferença, é a alvo quem "finge" que não liga, embora sofra do mesmo jeito.
Tirando esses casos extremos. Todo mundo tem dificuldade em desapegar-se emocionalmente. Não é à toa que usamos pronomes possessivos nas PESSOAS. Já parou para pensar nisso? Como assim, né? MINHA mãe, MEU pai, MEUS irmãos, primos, tios... MINHA namorada, MEU namorado, MEUS sogros... MEUS vizinhos, colegas, amigos, funcionários, médicos, pacientes, clientes.. meus, minhas, meu, minha! MEU Deus! hahahahahaha É muita presunção, né? Somos todos "umbiguitados", ou não? Já falei disso no blog... Nem SEU corpo é SEU, criatura.. que dirá DEUS, pai, mãe, namorado, amigo! Mas até EX é NOSSO! Meu ex, minha ex! Ninguém começou a lavrar AINDA escritura de gente, desde a abolição da escravatura, claro, quando "quem merecia ser cumprimentado" tinha SEU escravo...
Well.. Mas isso não muda o fato de que somos inexoravelmente apegados aos nossos sentimentos, aos sentimentos dos outros por nós e por terceiros, à opinião de todo mundo sobre tudo, à opinião de todo mundo sobre a NOSSA opinião sobre nós e sobre tudo o mais.. enfim! É uma bagunça de sentimentos, emoções, sensações e ninguém consegue distinguir com clareza (eu bem que gostaria de escrever sobre isso.. quem sabe no futuro?) onde fica a tênue linha que separa uma coisa da outra.
Então.. how to leave behind exatamente esse nosso apego ao apego? Bom, não precisamos. Nem devemos. Basta que saibamos dosá-lo. Usá-lo em nosso benefício e para o bem, ou pelo menos não-mal, alheio.
Se nada no extremo é bom. Também o des-desapego não é, ué! Simples assim. Seria o extremo oposto, certo? Desapego nenhum.. indiferença, lembram? Não é legal ser indiferente. Machuca!  :) Faz sentido, certo? Bom senso. O bom senso é que vai orientar na hora de prepararmos nosso fardo para a vida. O que colocar dentro dele?
Então? Leave behind o que for desnecessário carregar! Ou pelo menos o que conseguir! Já é alguma coisa! Vamos tentar um pouco de desapego, pra que possamos deixar pra trás, nem que seja aos poucos, as cargas inúteis que levamos nos ombros.
E devagar.. como quem não quer nada... caminhemos em direção ao mar, de costas para que o ficou pra trás sem precisar, no entanto, olhar por cima de nossos ombros.
Que apenas o sapato gasto denuncie, ao final da jornada, o longo caminho que precisamos percorrer e que cada vez mais jovens por dentro, caminhemos com a graça e a leveza de uma criança e não com a higidez que deixa no homem o passar dos anos.
Just leave behind.

2 comentários:

  1. Cento e cinquente posts....tô impressionado não. Do jeito que vc escreve parece até que é pouco. Bom, sempre quiz saber como é o processo de escolhas das imagens que acho inspiradíssimas. Está explicado e muito bem por sinal. É um processo muito parecido com o meu. Observamos as imagens internas ou externas e conversamos com e sobre elas. AS vezes olhamos para fora, na maioria das vezes olhamos para dentro. As crianças são a exceção sadia.A sabedoria de olharmos o mundo com os olhos do mundo é muito difícil. Mas o exercício é esse mesmo, quanto mais falamos mais ouvimos e comparamos nosso mundo interior com o dos outros que nos cercam Nossos irmãos mais velhos ao fazerem isso mais tempo que nós adquiriram a capacidade de amar por meio dos outros. No caminho nós estamos. Somos tentantes, não necessariamente conseguintes. Mas chegaremos lá.

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