quarta-feira, 16 de março de 2011

A solidão, a solidão outra vez, a solidão de novo, o cachorro-quentês e a beleza da vida.



Eu prometo solenemente que, em breve, escreverei sobre o que houve no Japão. E eu cumpro as promessas que faço aqui... vocês sabem disso! Mas hoje não. Hoje quero falar abobrinha. Hoje quero aliviar o coração - o meu e o seu - e quero filolesar... viajar na maionese... passear por Marte.

Minha mãe comentou meu último post! Que lindo, né? Não podia passar batido! Finalmente ela se rendeu ao meu charme literário! hahahahahahahaha E está sendo bem legal. Ela me sugeriu mais caminhos retos ou sinuosos ao invés de bifurcardos nessa vida de meu Deus. Nada mal, hã? Ela disse: que tal mais "I´s" ou "S´s" no lugar de "V´s" quando eu estava falando do formato dos caminhos que temos que percorrer... tipo pista de corrida em videogame, sabem? kkkkkkkkk Ela entrou no clima. Acho que estamos ambas mais maduras pra nos entendermos agora.


Pensando na minha mãe me sinto como uma copilota. Sabe aquelas motocas que tem um carrinho acoplado na lateral? hehehe Tipo que Hagrid usa pra andar com Harry Potter pra cima e pra baixo? (hahhahahahaha as vezes eu me supero, né? nos exemplos!) Tipo isso! A gente foi sempre muito companheira. Esses dias minha chefe, a "póbi", tem sofrido com a filha pequena de 7, 8 meses que acorda muito na madrugada chorando ou querendo brincar. Abstenção de sono é uma coisa séria, né? Afe... ainda bem que tenho muita vontade de ter filhos... mas isso me fez gelar a espinha! Abstenção de sono me deu mais medo do que o parto! Imaginem! JURO! E então tive que lembrar da minha mãe... que mandou fazer um berço bem grande que coubesse nós duas dentro pra ela deitar lá e dormir enquanto eu ficava a madrugada acordada e só sossegava se ela estivesse do meu ladinho. Pode isso?

Ô, mãe! Que absurdo, viu? hahahahahaha Pelo amor de Deus! Se tiver um psicólogo ou pediatra lendo isso, deve estar tendo um ataque cardíaco... kkkkkkk Mas obrigada. :) Sei que você me amou com cada célula, cada núcleo celular e cada mitocôndria do seu corpo. E me ama ainda hoje sem tirar nem pôr. Obrigada por ter "me feito" herdar seu gosto musical... pelas horas de Oswaldo Montenegro, Geraldo Azevedo, Guilherme Arantes, Simone, Marisa Monte, Marina, Lulu Santos, Luciano Bruno (hehehe), Fagner, Luiz Gonzaga, Gonzaguinha, Maria Bethania e até pelos "melhor da novela" e "melhor internacional da novela" hahahahahaha. E por Fábio Júnior e Roupa Nova! O resto eu aprendi meio que sozinha eu acho... Mas a base é mérito seu!

Ai ai... mainha, mainha, MAINHA!... Obrigada por me ajudar naquele trabalho sobre samambaias no colégio. Não sei se você lembra, mas eu nunca vou esquecer. Estava em pânico e você "salvou minha vida". Enfim. Obrigada por tudo. "Que o espelho reflita no meu rosto um doce sorriso que me lembro ter dado na infância."

Agora que já babei e puxei o saco - merecidamente - da minha mãe... bom...


Eu tenho viajado constantemente a Marte ultimamente. Há um tempo escrevi sobre os tipos de solidão. Mas acho que me fugiu na hora de escrever algo do que eu queria passar. E agora tive um momento de epifania. Falando em epifania... essa palavra é bem legal, né? Meio nome de gente, meio grega! Sei lá! É bom dizer que tivemos uma epifania! hahahahaahaha Pois é. Primeiro porque uma pessoa me perguntou se eu não achava que eu tinha um mundo meu pra onde eu ia as vezes e se eu não me isolava lá... enfim... se eu já tinha notado isso! Háááá! O que vocês acham? Pois é!

Depois porque uma outra pessoa me perguntou sobre morar em uma cidade na qual não tenho família... se não me sinto sozinha. Bom...

"O que é solidão?"

Eu lembro que quando eu morava com minha mãe em Natal eu sentia necessidade de ficar sozinha "de fato"... de me fechar no meu quarto, e não apenas no meu mundo. Por mais que eu me sentisse, comumente, sozinha no sentido de incompreendida ou de diferente... mesmo no meio de muita gente, eu precisava me isolar mesmo fisicamente. Aquele silêncio, aquela calmaria. A ausência da energia de outras pessoas me recompunha. Não sei. É o mais perto de uma explicação que consigo chegar.

Mas desde que vim morar em Brasília eu tenho me sentido sozinha de um "modelo" de solidão diferente que estava difícil de conceituar, entender. Tudo bem que não dá pra rotular tudo ao nosso redor, em nossas vidas. Não tem como, né? Até que tive essa epifania agora... He hééééé! :) Poooodre de chique! Pois foi! E não é que fez sentido? É assim olha... Hoje, morando sozinha, vivendo assim uma lobinha fora da matilha, eu não preciso mais me isolar pra recuperar minhas energias. Não preciso mais me afastar da presença e do tumulto da "energia" de outras pessoas. Pelo contrário, eu preciso é buscar o convívio com outras pessoas pra que estar sozinha depois comigo mesma continue fazendo sentido!

O que estava me fazendo me sentir mais só do que antes era a saudade de precisar me isolar. É o quanto eu curtia fazer isso, porque eram momentos que eu valorizava, que me reestabeleciam... Era uma coisa "fora do lugar-comum". Vivendo sozinha, estar só tornou-se "comuns" e com isso, perdeu um pouco do efeito que surtia sobre mim. Chegou ao ponto, talvez, de eu me afastar de pessoas do meu convívio aqui em Brasília, ainda que não fossem de convívio doméstico, pra poder matar a saudade da tal "solidão conquistada" que tanto me satisfazia e que, morando só, eu perdi. A solidão imposta não tem o mesmo sabor. Não sacia da mesma forma. É preciso ter alguém e se afastar um pouco pra estar só de propósito!


É como dar leite industrializado no lugar de leite do peito. Tofu ao invés de carne. Deve ser a diferença de plantar sua própria horta a comer legumes congelados! Sei lá! E não é que Sêneca diz que "A solidão está para a alma como a comida está para o corpo."?

Sei que parece muito louco isso. Uma vez li sobre pessoas que sofrem de introversão. Não significa necessariamente que sejam pessoas tímidas. Mas são indivíduos que têm essa necessidade de isolamento frequente, com periodicidade, a fim de se reencontrarem, reestabelecerem, respirarem de si e do mundo. Me identifiquei na mesma hora. É uma "coisa" que dificilmente a maioria das pessoas assumiria, eu imagino... por medo de serem julgadas egocêntricas ou excêntricas. Mas não é nada demais. Na verdade, simplesmente podemos estar ouvindo música, lendo um livro ou pensando na vida... parte de nós está ali, a outra parte eu não sei.

Pode levar alguns minutos. Pode levar horas. Pode ser um exercício diário. Pode ser algo bem esporádico. Depende. Uma vez meu padrasto me procurou e me disse: "Duda, sabe há quantos dias eu não lhe vejo?" E eu respondi surpresa que não... afinal eu estava em casa normalmente todos os dias e ele não tinha viajado recentemente... "Há 13 dias." Uau! É que eu me fechava na hora do almoço... e a noite ia pra academia, chegava e ia pro quarto... não tava interagindo com a "casa". Preciva me policiar pra participar da vida deles... mas eles estavam ali... à distância de uma porta. Eu ouvia seus sons, sentia seus cheiros... sabia de suas presenças. Eu só me isolava quando eu queria meeeesmo. Eles estavam muito mais "sós de mim" do que eu estava "só deles"... Então eu precisava me afastar deles mais do que eles de mim. Como eles não percebiam ou entendiam isso, eu tinha que me policiar pra eles não se sentirem negligenciados... Será que alguém consegue entender isso? É mucho loco?

Mas tudo muda.

Agora estou aqui sozinha. Amanhã posso estar casada, posso ter filhos, posso dividir o apartamento com uma amiga, um parente, um estranho... posso morrer. Francesco Petrarca disse que ninguém é tão jovem que não possa morrer. Tá certo! Ficar só depois da morte deve ser bem mais difícil, viu!?




Vamos ver uma sequência de pensamentos interligados sobre a solidão de diferentes pensadores.

Carlos Dossi pergunta e responde: "Por que é que, em geral, fugimos da solidão? Porque são muito poucos os que se encontram em boa companhia consigo mesmos."

Acrescentando ao que Dossi falou, Paolo Pasolini diz que "É preciso ser muito forte para amar a solidão."  Huuum.. será?

Esse tipo de "força" é coisa que, normalmente (hahahahahahaha humildemente falando, claaaaaro) as pessoas inteligentes têm, né? Então Arthur Schopenhauer, com aquele tato e delicadeza que lhe eram característicos,  disse que "Ao homem dotado intelectualmente a solidão oferece duas vantagens: antes de tudo a de estar com si mesmo, e em segundo lugar a de não estar com os outros."

Mas mesmo quem gosta da solidão, mesmo quem a ama, não pode tolerá-la sempre. Bom, Guy de Maupassant falou que "O nosso grande tormento na vida resulta do fato de estarmos eternamente sozinhos, e todos os nossos esforços, todas as nossas ações, destinam-se apenas a fugir desta solidão".

E lá vem Schopenhauer - o delicado - outra vez com suas conclusões objetivas: "O que torna os homens sociáveis é a sua incapacidade de suportar a solidão." So be it!

Pára, genteeeee! Parem de ver a solidão como um tabu. Eu sou filiada à corrente de Sêneca: um pouco de solidão é necessária! Um pouco ou um muito, dependendo da pessoa... cada doido com sua mania, cada um com suas porções, desde que todos terminem saciados. Enclausuramento é diferente... aí é demais! Recolhimento, digamos assim, até pode. Tudo com limites.

Só não deixe que sua busca lhe machuque. E procure não machucar aos outros. Não é fácil entender. Não é nem um pouco fácil pessoas com necessidades distintas umas das outras se entenderem quando o assunto é as suas diferenças. É nó ceeeeego! Maaaas... é a vida. Na minha opinião é melhor sempre tentar sem franco, sincero, mas com um tom de voz desarmado e o coração aberto. Só que isso é bem difícil quando o outro vem com 7 pedras, uma metralhadora automática e um torpedo atômico thermo-guiado pra cima da gente... :P

Isso que Guy de Maupassant falou de "grande tormento" e "eternamente sozinhos"  é pesadinho, né? Ô, Guy, meu filho... será que você falava isso porque as pessoas não lhe entendiam... e você tentava perguntar as coisas pra elas... e elas não respondiam nada com coisa nenhuma... e você ficava doidinho? Perdido? Sozinho? Será? Você deixou alguma associação na qual eu possa me filiar se for esse o caso? hahahahahahahaha Tem espaço pra um baaaando de sócio novo?


Por isso que Enrique Jardiel Poncela falou que a pessoa só tem dois jeitos de ser feliz... se fazendo de idiota ou sendo idiota meeeeesmo! Porque têm momentos que eu só posso estar falando japonês em braile (com a venia de Djavan) pra ser mal interpretada feito eu sou, ou então receber retorno ZERO feito eu recebo.

Não existe explicação plausível! Eu só falto d-e-s-e-n-h-a-r, mas é como se não saíssem sons das minhas palavras... ou sei lá! Me angustia taaaaanto quando eu pergunto: "E aí, está chovendo hoje?" e a pessoa responde: "É. Concordo que um cachorro quente cairia bem, mas depende do resultado do jogo!" HÃÃÃ!!!???

Eu não fiz esse curso de decodificação de mensagens secretas. Desculpem. Dá pra responder ao que eu disse agora?

Essa realidade dá uma sensação de impotência e de solidão muito grande, meio estranguladora, psicopata-americano de filme de terror mesmo. Horrível! E que outra solução senão nos isolarmos MAIS pra nos protegermos desse bando de maluco solto pelo mundo que só sabe falar em código secreto de cachorro-quentês? Credo! Sabem? Ai ai...

As vezes eu não sei se é mais difícil ser só. Ou ser junto. Dizem que temos mais medo da solidão que das ataduras. Bem... mas isso não faz das ataduras uma resposta mais fácil? Será que é por isso que os tais inteligentes preferem a solidão? Mas se são tão inteligentes, deveriam saber lidar melhor com isso de atadura do que os não-tão-inteligentes... e aí o certo deveria ser dizer que os inteligentes preferem não ser sós. E fica tudo tão confuso! Somos todos ignorantes. Só que em assuntos e níveis diferentes. Nisso de ataduras e solidão acho que todo mundo é meio burrinho mesmo.

Sem uma "outra pessoa" não podemos ter noção do tamanho da nossa solidão e do potencial que ela tem para nos incomodar e até ferir. Bom... Eeeeu não acho que inteligência tenha relação com covardia.... Precisamos conhecer nossos limites e fragilidades para lidar com eles da melhor forma possível. Só que a ignorância é tãaao convidativa, não é? Quando se trata de sentimentos! Com que frequência nos enganamos a nós mesmos? Inventamos desculpas e justificativas furados e ridíííííículos que nem temos coragem de repetir pra uma pessoa qualquer... e vamos levando o barquinho. Um dia, quando não dá mais pra tapar o sol com a peneira somos todos coniventes uns com os outros e dizemos... "É isso mesmo, rapaz! o nosso subconsciente prega dessas peças." E efetivamente nos sentimos melhorzinhos... quase sempre ao menos.

Dizemos: "nasci sozinho e vou morrer sozinho". Mas não é bem assim. Porque temos essa busca conflitante pelo aconchego perdido do útero. Buscamos nossas mães em quase todas as mulheres com as quais nos relacionamos. E lá vem complexo de Édipo pra cá, de Electra pra lá e todo o bafafá de como o homem é um ser social. Não, meu chapa. Você pode "não ter nascido pregado com ninguém", mas se dependesse de você, passaria a maior parte da vida pregado, sim senhor.

Que coisa incrível que é compreender a diferença de ESTAR só para SER só.


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