Ontem assisti um filme chamado "Creation", baseado num livro que se chama, por sua vez, "Annie´s Box" e que conta a história de como Charles Darwin escreveu sua famosa teoria "A Origem das Espécies", cuja primeira tiragem, de 1.250 exemplares esgotou-se no primeiro dia em que foi posta a venda.
É claro que, por mais que ache fascinante tudo isto.. e embora a teoria de Darwin seja uma das mais importantes teorias individuais da história do pensamento humano, o que realmente me deixou intrigada, encantada com a história foi a pessoa Charles. Pelo menos a pessoa que foi retratada no filme. E mais: a densidade de seu drama pessoal, especialmente após a morte de Annie, sua filha mais velha e sua versão "de saia e mirim", que lhe compreendia e que tinha os mesmos gostos que ele.
Claro que para alguém nascido em 1809 e educado em uma sociedade em que Deus criou tudo, sei lá.. literalmente do barro (?) falar em evolução, seleção natural, mutação, dinossauros (Annie teve que se ajoelhar no sal grosso por defender a crença do pai na existência de dinossauros diante do reverendo!) era "meio" que entrar em conflito com o Criador himself (ou era o que as pessoas achavam). E isto definitely não era o que Darwin queria.
Primeiro porque ele mesmo teve criação católica. Depois porque sua esposa e prima em primeiro grau, a quem ele amava muitíssimo, era daquelas católicas fervorosas. Além disso "matar Deus", como alguns colocavam, era algo pesado demais quer seja naquela época quer seja hoje!
A "igreja", ou a religião, como instituição mantém a sociedade coesa e não precisa ser religioso para saber disso, basta ser sensato, certo! E isto é algo que, apesar de cabeça nas nuvens, Darwin era. Sensato e íntegro.
Então! Ao longo de muitos anos - uns 20 mais ou menos - Darwin se debateu contra sua própria consciência tentando se ater às crenças católicas que lhe tinham sido incutidas desde criança. Mas primeiro ele teve que "tapar o sol com a peneira" e negar os fatos enquanto os presenciava... E depois simplesmente viu sua própria fé esvair-se em meio às constatações e estudos que realizou de como as espécies se relacionavam entre si, de como a natureza se equilibrava perfeitamente de modo que o mais forte, o mais apto, o mais preparado biologicamente poderia ser "naturalmente selecionado" a sobreviver em detrimento do mais fraco.
Milhares morriam para que poucos vivessem... Se, segundo o reverendo, não cabia ao homem perscrutar as razões de Deus, Darwin não acreditava que era a vontade do Criador, mas simplesmente imperativos naturais que levavam os seres vivos a relacionarem-se e selecionarem-se do modo como faziam... Não era Deus quem criava este ou aquele animal... este animal "se criava".. nascia da necessidade, na evolução natural, da seleção reprodutiva e do decorrer dos anos.
O "colapso da fé" de Darwin veio com a morte de Annie que não pôde ser salva nem pela religião nem pela ciência. E este é o momento em que o filme começa meeeeesmo.
Porque é um daqueles filmes em que a memória do protagonista fica voltando, sabe? Para a gente entender o que aconteceu antes? E dá para entender a sensibilidade aguçada daquele personagem, daquele ser humano, daquela criatura de Deus, que apenas naquele momento não conseguia entender isso: Que da perfeição da natureza e da evolução natural não decorria a negação da existência de Deus, mas a certeza de sua magnitude (!) (bem, isso é o que EU acho).
Quando Annie morreu, Darwin continuou a vê-la, conversar com ela... e foi ela quem o orientou, quem praticamente o guiou a concluir sua obra, salvar seu casamento, sua própria vida e sua sanidade.
Para os céticos pode ser uma manifestação de loucura. Talvez ele tenha criado um "fantasma" para exprimir os seus próprios pensamentos ocultos? Esta explicação chega a ser ventilada no filme. Para mim é Deus agindo por seus próprios caminhos... aquelas tais "linhas tortas das quais todos falam"... Eu acredito que nossos entes queridos continuam a velar por nós sempre que possível, conveniente, e dentro de suas próprias limitações..
Bom, neste pórtico, pelo que o filme demonstrou, Annie era um espírito de luz que veio ajudar o seu então pai na importante missão de trazer à humanidade tão valiosas lições e conhecimentos. E é mais ou menos quando Darwin descobre que fé e religião (pelo menos religião como "dogma") são conceitos distintos, que ele começa a sair do buraco negro... e inicia a retomada de sua própria vida.
Mas voltando ao que interessa! Para mim o mais fascinante do filme são as pequenas coisas. São as lembranças que ele guarda com maior carinho e a maneira como ele as retrata. São as histórias que ele conta e os aspectos que ele valoriza em cada história.
Mesmo como "homem da ciência" que ele DEVERIA ser, para mim era mais como um... um o quê???? Nem sei? Homem da humanidade? Piegas! Homem de Deus? Neeeem! Homem? Só um homem? Não! Era belo porque era ainda menos que isso.. era menos que um homem... era só um coração eu acho... nem mesmo um homem inteiro!
Deixa eu tentar explicar. (Nossa esse post vai ficar gigante.... só eu vou ter paciência de ler depois!)
É tipo isso.. Assim... Ele contava histórias a Annie. Reais. Uma das histórias é a respeito de crianças "selvagens" que foram "resgatadas" e "civilizadas" e até aprensentadas ao rei e à rainha na Inglaterra... O mais marcante na história? Ele lembrando do sorriso de Annie ao ouvir... ele lembrando das expressões e dos gestos de Annie e tentando antecipar as reações da filha e se ela seria capaz de prever os eventos... a preocupação de Darwin com os sentimentos das crianças selvagens bem mais do que com o "valor científico" de torná-las cultas.
Depois, quando levaram-nas - os cientistas e o capitão da fragata - à sua terra, para tentar com seu exemplo levar os demais selvagens à civilitude e aos bons costumes católicos, o que aconteceu? As crianças desnudaram-se e voltaram imediatamente às suas origens! Mas ao contrários dos homens da ciência, Darwin somente achou aquilo tudo engraçadíssimo! Não se amuou... Porque ele era assim mesmo: coração (de manteiga) e as vezes, muitas vezes "olhos"! Isso mesmo: olhos atentos...
Outra vez ele contou pra Annie sobre Jennie. Esta história ele teve que lembrar (no filme) em prestações, de tanto que mechia com ele... Aaaah coração mole!
Jennie era uma orangotango. A primeira que chegou na Inglaterra. E ele aprendeu a amá-la em apenas uma tarde. E não aprendeu a esquecê-la nem em toda uma vida... porque Jennie morreu de pneumonia e Charles Darwin nunca cumpriu a promessa feita (à orangotanga, claro) de voltar a vê-la... e nem pôde, evidentemente, perdoar-se por isso... Ele era assim.
E ele gostava de olhar as coisas.. eu também gosto... legal, né? Será que ele era de Marte? Ele olhava e olhava e olhava. E pensava e pensava e pensava. Igualzinho e mim. Olhava um inseto, e olhava um pássaro, e uma folha, e pensava na cadeia alimentar... e ficava viajando.. e brincava mentalmente com a linha do tempo... dos dinossauros aos "Jetsons" (modo de falar, claro! ele não conhecia os Jetsons! Dãããã!)... e ficava ali... filolesando... mesmo antes de eu inventar essa palavra (se é que foi eu quem inventou!).
E um dia ele estava com os 4 filhos (Annie e os 3 irmãos)... e viu um coelho. E viu uma raposa. E pediu para todo mundo ficar "very still"! Quietinhos... Shhhiiiiii... E a raposa pegou o coelho, claro..! Porque é isso que as raposas fazem! E nesse dia Darwin era mais "olhos" do que "coração"...(?) Pelo menos foi o que EU pensei no começo (mas eu não conhecia ele tão bem quanto Annie...) porque logo em seguida a outra filha dele começou a chorar e dizer como aquilo "Não era justo" (pobre coelho, certo?)... e primeiro Darwin ficou meio pasmo.. meio bobo... aí ele entendeu a indignação da filha mais nova - com pena do coelho... mas aí Annie falou e aí EU entendi e também a outra filha dele (a mais nova)... E nós duas vimos como somos bobas e não sabemos nada! Hááááá! Com pena do coelho!??? Pensando mal de Darwin!!??? Achando que ele nem era tãããão coração assim...
Mas Annie explicou...
Ela falou assim: "A raposa TINHA que comer o coelho... porque senão os bebês da raposa é que iam morrer".
...
Seleção natural. Quantos "coelhos" nós, homens, matamos todo dia, toda hora, para que "nossos bebês" possam sobreviver? Hããã?
Então... Já contei tudo mermo, né? Terminando de estragar o filme... hahahahahhahaha... Deixa eu seguir!
Deixa eu contar de quando eu realmente fiquei querendo muuuuuito chorar... foi quando Darwin "reviveu" a morte de Annie... AFE! Os últimos dias de tratamento dela... Tipo quando parecia que ela estava tentando mais por ele do que por ela, sabe? Porque as coisas têm que ser de uma ceeerta forma..
Mas EU continuo me revoltando sempre com isso de pai e mãe perder filho... é tão antinatural! É tão cruel! Sei sei sei seeeeei disso que as pessoas boas supostamente vão pro céu antes... Seeeei que as criancinhas são especiais pra Papai do Céu... Seeeeeiiii que não cai uma folha sem que Ele permita.... Seeeeeeeeeeei que é feio, muito muito feio querer que alguém, especialmente uma criança, que está doente e em sofrimento fique aqui do lado da gente sabendo que se ela for pro céu vai estar muito melhor... mas já falei em outro post (A bunch of toughts) me chamem de egoísta, burra, doida, estúpida, ignorante, me processem... não é dos que "vão" que tenho dó.. mas dos que "ficam"! E não consigo NÃO me desesperar de ver um pai ou mãe afetuosos perder uma filha amada... Não consigo! É pelos pais, gente... é por eles que meu coração sangra... e sangrou pelo tal do Darwin.. puuutz.
Mas Annie estava bem.. estava serena, preparada e em paz... e ela "voltou"... e isso aliviou um pouco a coisa toda... e ela "salvou" a vida dele e a família dela... Foi tão lindo! Ai ai ai!! :D
E pra completar: a reconciliação do casal.. porque depois que Annie morreu desmoronou tudo.. Darwin ficou um pai de cocô com os outros filhos e um marido medíocre.. sério! Fiquei chateada com ele! Aí quando "ele recuperou a fé" (mesmo que ele não tenha compreendido isso.. acho que ele não compreendeu a sutileza da lição fé-religião... e acho que ele não percebeu que voltou a ter fé.. fé nele mesmo, no casamento dele, na família), tendo passado a agir como alguém que não precisava se considerar religoso para ter fé em algo ou alguém, voltou a ser um coração mais "de leão" do que "de rato", sabem? E aí lavou a roupa suja com a esposa... e claro, veio com um papo nerd de que talvez não devessem ter casado porque por serem primos o sangue estava próximo e isto poderia ter feito Annie fraca (isso de que sangue próximo é ruim... que pode levar à deficiência na prole? Sabem?)... e aí, a mulher (nós mulheres como sempre bombamos, né? me maaaata de orgulho) falou pra ele que sabendo de tudo isso casaria com ele novamente no dia seguinte se tivesse que escolher! Lindooooooo, né? Ai ai...
Então Darwin concluiu o livro dele.. sobre "A Origem das Espécies"... que foi como este post começou... mas restava o dilema moral-religioso... e sabem o que ele fez (no filme, ao menos)? Ele entregou o manuscrito para a esposa e disse para ela que se alguém tinha que tomar o partido de Deus melhor que fosse ela do que o reverendo.. E pediu apenas que ela lesse antes e depois agisse conforme sua própria consciência.
E novamente me matando de orgulho... a danada passou a noite INTEIRA em claro lendo sobre fósseis e seleção natural, reprodução e sobrevivência de espécies e na manhã seguinte, quando ele acorda e pensa que ela tocou fogo em tudo (mas a gente sabe que não, afinal todo mundo CONHECE a teoria de Darwin! hahahahahahaha UFA!) ela entrega pra ele o manuscrito embalado e diz que espera que Deus os perdoe a ambos, porque ele finalmente fez dela sua cúmplice! Oooowwwww.... Muito legal, né? Aí pronto! Eles ficam casados e felizes até ele morrer aos 73 anos de idade. Não foi fácil, não foi só "confetes e serpentina"... Mas Deus dá o frio conforme o cobertor e no final, pelo menos é o que eu acredito... soubesse Darwin ou não.. foi feita a Sua vontade... ;)
Acho que Papai do Céu NÃO nos quer ignorantes.. a apesar de ainda não compreendermos inteiramente como Ele criou todas as coisas, basta saber que Ele o fêz! Definitivamente ninguém vai me convencer que tudo veio do barro nem de costela... Sinto muito Adão e Eva!
Acho que teve algo como um bing bang... depois a evolução a partir de seres unicelulares... E que a vida biologicamente falando, como conhecemos, só foi possível porque existia água na superfície terrestre... Mas exatamente como acontece a evolução, a ligação dos nossos corpos e a partir de que momento com nossas almas/espíritos...? E com os seres irracionais? E como separar o homo sapiens do macaco? hahahahahaha Não sei dizer ao certo... Não defendo que somos macacos! hahahahahha Só que organismos evoluem... e que se transformam.. Não acho que uma borboleta seja uma lagarta... mas deve existir quem ache! Cada cabeça é um mundo. E de como se dá exatamente a evolução moral e intelectual dos seres? E como acontece em outros planos, outros mundos, outros planetas (?) Outros Darwins virão quando for o momento! I do have faith in my box.